A recente fala de Luiz Inácio Lula da Silva sobre como controlar os preços dos alimentos em Salvador gerou polêmica e revolta, por sua proposta claramente distante da realidade econômica e social do país. O presidente sugeriu que a solução para o aumento do custo de vida seria simples: o povo brasileiro deveria simplesmente deixar de comprar os produtos que considerasse caros, e dessa forma, os comerciantes seriam forçados a reduzir os preços para não “estragar” a mercadoria. Além de demonstrar uma desconexão com as dificuldades enfrentadas pela população, essa sugestão soa como uma resposta simplista e ingênua para um problema complexo.
A declaração de Lula, que implica em uma "educação" do povo brasileiro para não comprar produtos caros, ignora completamente as condições socioeconômicas da maioria da população, que já enfrenta dificuldades para suprir suas necessidades básicas. Em muitas famílias, a compra no supermercado não é apenas uma questão de escolha, mas uma necessidade urgente. Quando o preço de alimentos essenciais sobe, as pessoas não têm o luxo de simplesmente esperar ou trocar por outros produtos. Elas são forçadas a lidar com a escassez e os altos preços, em um cenário de inflação persistente e de salários que não acompanham a alta dos custos.
Além disso, a lógica sugerida por Lula ignora as dinâmicas do mercado e da oferta e demanda. A ideia de que os preços irão cair automaticamente caso os consumidores deixem de comprar produtos "exageradamente caros" parece mais uma tentativa de simplificar um problema que exige políticas públicas concretas e eficazes. Em um mercado altamente competitivo, o preço de um produto não é simplesmente determinado pelo desejo ou percepção de consumo da população. Há uma série de fatores estruturais e econômicos que impactam os preços, como custos de produção, logística e inflação, que não podem ser controlados apenas pela ação de consumidores individualistas.
A proposta de “educar” o povo para controlar os preços também desconsidera o fato de que a maioria dos consumidores não tem poder de barganha individual. Quando a população vê o preço de um produto subir, é porque o mercado como um todo já está refletindo aumentos generalizados nos custos. Não se trata apenas de uma “falta de consciência” do consumidor, mas de uma realidade econômica na qual o poder de compra de grande parte da população tem sido corroído pela inflação e pela falta de políticas públicas adequadas para estabilizar os preços.
Em vez de sugerir soluções simplistas, como essa "educação do povo", seria mais sensato que o governo adotasse medidas mais estruturais, como o fortalecimento da produção nacional, controle de preços de itens essenciais, ou políticas que incentivem a redução de impostos sobre alimentos básicos. O governo tem um papel crucial na regulação da economia e na criação de um ambiente mais justo para todos os brasileiros, e isso não será alcançado com dicas de consumo, mas com ações eficazes e responsáveis.
Em resumo, a fala de Lula sobre o controle de preços reflete uma visão desconectada da realidade dos brasileiros e ignora a complexidade do problema. Em vez de responsabilizar a população por uma situação que está além do controle individual, é fundamental que o governo implemente políticas econômicas que realmente abordem as causas do aumento dos preços e ofereçam soluções reais para aliviar a carga que recai sobre os cidadãos. A "educação do povo" não será suficiente para corrigir a disparidade entre os preços e os rendimentos, e o governo deve estar mais atento à necessidade de agir com urgência e responsabilidade diante dos desafios econômicos que o país enfrenta.
Leia o que disse Lula:
“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai ao supermercado em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Olha, se todo mundo tiver essa consciência de não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender porque senão vai estragar. […] Isso é da sabedoria do ser humano: eu não posso comprar aquilo que eu acho que está sendo exagerado o preço, então vou deixar na prateleira, não vou comprar, compro amanhã, compro outra coisa, compro um similar. É um processo educacional que vamos ter que fazer com o povo Brasileiro"