Ao sair de reunião com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, o senador Plínio Valério (PSDB‑AMdisparou: “O BC é um Boeing com orçamento de teco‑teco”. A metáfora resume o relatório da PEC 65/2023, que quer conceder autonomia orçamentária plena à autoridade monetária.
Valério destaca que, embora administre trilhões de reais, o BC opera com apenas R$ 10 milhões anuais — verba insuficiente para pessoal e tecnologia. Servidores são poucos, salários estão defasados e sistemas críticos envelhecem, comprometendo o combate à inflação e a supervisão do sistema financeiro.
A PEC permitirá que o próprio BC elabore e execute seu orçamento, submetendo‑o apenas ao Conselho Monetário Nacional e, depois, ao Senado. O texto — de autoria de Vanderlan Cardoso (PSD‑GO— amplia a autonomia operacional de 2021 e cria personalidade jurídica própria, blindando o banco de ingerências ministeriais.
Outro ponto polêmico é liberar concursos e contratações sem aval do Planalto. Se começassem hoje, os certames só nomeariam em dois anos, “e o motor do Boeing já está no vermelho”, alerta Valério. Ele deu dez dias para o BC enviar sugestões finais antes de pautar o relatório na CCJ em junho.
O senador Otto Alencar (PSD‑BA), presidente da comissão, prometeu colocar o tema em votação. Economistas baianos lembram que a penúria orçamentária do BC repercute no bolso dos mais pobres, sobretudo Nordeste e Norte, dependentes de decisões rápidas e técnicas contra a inflação.
Críticos apontam que o governo federal agrava o quadro ao contingenciar verbas e adiar concursos, enquanto patrocina despesas políticas pouco produtivas. “Celebrar superávit com equipamentos obsoletos é brincar com fogo”, ironiza ex‑diretor. Manter o BC “voando baixo” pode custar caro a quem já sofre com juros e preços de Salvador a Juazeiro.
Se a PEC passar, o BC poderá investir em cibersegurança, open finance e novas ferramentas de supervisão. Caso contrário, o país seguirá pedindo a um teco‑teco façanhas de Boeing — e a conta, como sempre, ficará para o contribuinte.
