O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), agendou para esta tarde reunião reservada com o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), a fim de apresentar “proposta de rito” que viabilize a votação da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro ainda antes do recesso. Motta pretende oferecer um novo relator e prazo de dez sessões para emendas, desde que o PL retire a obstrução que trava a pauta econômica.

A iniciativa surge após o PL entregar a Motta um texto alternativo que restringe o perdão a manifestantes sem antecedentes por crimes violentos ou contra a vida, mas mantém brecha para alcance de ex-autoridades, entre elas Jair Bolsonaro — ponto que enfrenta forte resistência da base governista.

Nos bastidores, Motta demonstra fadiga com a cobrança diária da ala bolsonarista, que ameaça impedir votações do arcabouço fiscal se a anistia não avançar. Fontes do Colégio de Líderes relatam que o presidente da Casa sinalizou a Sóstenes “pouca paciência” para chantagens parlamentares, mas admite discutir “perdão restrito” como saída honrosa.

A oposição trata o encontro como “última ponte” antes de acionar o Supremo Tribunal Federal, seguindo estratégia semelhante à de Nikolas Ferreira na CPI do INSS. Governistas, por sua vez, dizem que Motta tenta “empurrar o problema” para depois das festas juninas, temendo repercussão negativa em pesquisas de opinião que mostram 62% dos eleitores contra a anistia completa para golpistas.

Para o cientista político Cláudio Couto (FGV), o impasse expõe a contradição do Centrão: “Querem distensionar com o STF, mas cortejam a base que clama por perdão”. Se Motta ceder, arrisca rachar o bloco governista; se endurecer, pode ver a Câmara paralisada. A próxima semana será decisiva: ou a anistia entra em pauta — mesmo fatiada — ou afunda, levando junto o calendário do semestre e o capital político do recém-empossado presidente da Casa.