Brasília, 18 de setembro – A negociação para a compra de 36 viaturas blindadas obuseiros 155mm de Israel, avaliada em quase R$ 1 bilhão, pode avançar após uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU). O contrato, adiado desde maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está em pauta devido a uma consulta do Ministério da Defesa sobre a legalidade da aquisição.
O TCU avaliará se a legislação brasileira impede a participação em licitações de empresas sediadas em países em conflito armado. Há expectativa de que a Corte conclua que não existem restrições legais, permitindo assim que a aquisição prossiga do ponto de vista técnico.
Entretanto, o governo enfrenta divisões internas. O assessor-chefe de Assuntos Internacionais, Celso Amorim, é contrário à compra, citando as ações militares de Israel na Faixa de Gaza, que têm gerado críticas do próprio Lula. Oposição à compra argumenta que adquirir armamentos de um país em conflito poderia, indiretamente, financiar as operações militares israelenses.
Para buscar um consenso, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, propôs uma alternativa: o Exército poderia adquirir apenas duas unidades inicialmente. Se essas se mostrassem adequadas, o Brasil poderia exercer uma cláusula de compra para os demais 34 obuseiros, com a condição de que todo o armamento fosse produzido localmente. Isso garantiria a participação de empresas brasileiras, como Ares Aeroespacial e AEL Sistema, e a criação de 400 empregos diretos.
A licitação para a compra dos obuseiros, que visa modernizar a artilharia do Exército, teve início em 2017 e entrou em sua fase final há cerca de dois anos, com empresas de Israel, França, China e Eslováquia na disputa. A Elbit Systems, de Israel, foi a vencedora com base nos critérios técnicos e de preço.
Os obuseiros, considerados armamentos pesados, são canhões de longo alcance que podem ser utilizados de forma rebocada ou instalados em veículos blindados. A modernização do equipamento é vista como uma prioridade para o Exército brasileiro, já que muitos dos obuseiros atualmente em uso datam da Segunda Guerra Mundial.
A decisão do TCU pode, portanto, definir o rumo dessa aquisição, que é estratégica tanto do ponto de vista militar quanto da indústria de defesa nacional.