Banco Central intervém novamente e vende US$ 1,272 bilhão, enquanto moeda brasileira tenta evitar novo recorde.
O dólar apresentou queda nesta terça-feira (17depois de atingir a marca histórica de R$ 6,20 no início da tarde, à medida que cresciam as preocupações com a política fiscal do governo Lula. Para conter a valorização da moeda, o Banco Central realizou, pela quarta sessão consecutiva, leilões de venda de dólares, proporcionando alívio temporário ao mercado.
Por volta das 15h35, a moeda norte-americana estava em queda de cerca de 1%, sendo negociada a R$ 6,089 no mercado à vista. No dia anterior, o dólar já havia atingido o maior valor registrado até então, fechando a R$ 6,092.
No mesmo horário, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, registrava alta de 0,9%, aos 124.600 pontos.
A alta do dólar levou o Banco Central a realizar uma segunda intervenção durante o pregão e vender um total de US$ 2,015 bilhões. Anteriormente, a autarquia já havia colocado à venda US$ 1,272 bilhão no mercado.
Expectativa em torno da política fiscal
Os investidores aguardam com atenção a votação do projeto de regulamentação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer após a apresentação do texto no dia anterior. Também está marcada para hoje a votação do projeto de lei do pacote fiscal.
Nesta manhã, o Comitê de Política Monetária (Copomdivulgou a ata de sua última reunião, onde destacou que a desvalorização do real e as percepções sobre o pacote fiscal influenciaram a decisão de elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual.
A ata do Copom apontou: "A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou de maneira significativa os preços dos ativos e as expectativas, especialmente em relação ao prêmio de risco, às expectativas de inflação e à taxa de câmbio."
Sinalização do BC ao governo
O diretor de operações da FB Capital, Fernando Bergallo, afirmou que a ata do Copom passou uma mensagem clara ao governo, sugerindo que as políticas fiscais devem ser mais previsíveis e anticíclicas, além de criticar implicitamente a atual política de gastos públicos.
Expectativa internacional e cenário doméstico
No cenário externo, os mercados aguardam a decisão do Federal Reserve (Feddos Estados Unidos, programada para quarta-feira, em que se espera uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros. A principal atenção estará voltada para as projeções do Fed para os próximos meses.
No Brasil, o foco dos investidores está na votação do pacote fiscal, que pode enfrentar obstáculos devido ao prazo apertado até o recesso parlamentar, com o governo ainda tentando aprovar medidas de contenção de gastos. Os parlamentares têm até sexta-feira para concluir as votações.
Incertezas fiscais
O temor fiscal gerou pessimismo entre os investidores, que temem que o governo não consiga aprovar as medidas de ajuste fiscal até o final do ano, em virtude da ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas articulações políticas, já que ele se recupera de uma cirurgia em São Paulo, e da dificuldade com o pagamento de emendas parlamentares.
João Duarte, sócio da One Investimentos, comentou: "A pressão sobre o real está relacionada à grande expectativa do mercado em relação à votação do pacote de cortes de gastos." Ele acrescentou que a agenda apertada, com o recesso se aproximando, gera incertezas sobre a concretização das votações.