Uma pesquisa publicada na sexta-feira (17/1na revista científica Cells apresenta uma abordagem inovadora no combate ao câncer, demonstrando eficácia na redução de tumores, incluindo casos metastáticos e em estágio terminal.
Como funciona o tratamento?
A nova terapia altera geneticamente as células tumorais para que o sistema imunológico as identifique mais facilmente como prejudiciais.
Isso é alcançado por meio de um vírus geneticamente modificado que "engana" o corpo. Os cientistas induzem os tumores a produzir açúcares típicos de células de porcos. Essa alteração faz com que o organismo reconheça as células cancerígenas como invasoras e reaja a elas com mais intensidade.
Câncer "disfarçado" de porco
O método aborda um dos maiores desafios no combate ao câncer: o fato de as células cancerígenas serem originadas pelo próprio corpo, dificultando sua identificação como ameaças.
Com a técnica desenvolvida por pesquisadores chineses, o sistema imunológico conseguiu interromper o crescimento de tumores avançados e até eliminá-los em alguns casos.
A estratégia foi inspirada nas reações observadas em xenotransplantes, em que órgãos de porcos são implantados em humanos, e o corpo reage a esses tecidos. Para entregar a modificação genética, os cientistas usaram o vírus alterado da doença de Newcastle, um patógeno aviário inofensivo para humanos.
Testes em animais e humanos
Os testes iniciais foram realizados em macacos Fascicularis, amplamente utilizados em pesquisas por sua similaridade com os humanos. O estudo tratou animais com câncer de fígado induzido.
No grupo que recebeu placebo, a média de sobrevivência foi de quatro meses. Já entre os tratados com o vírus modificado, todos sobreviveram por mais de seis meses.
A pesquisa avançou para ensaios em humanos, envolvendo 23 pacientes com tumores resistentes a tratamentos tradicionais, incluindo cânceres de fígado, pulmão, mama e ovário.
Os participantes foram monitorados por até 36 meses após o tratamento. Entre os resultados:
- Um paciente apresentou remissão total dos tumores.
- Oito tiveram redução parcial da doença.
- Doze mantiveram a condição estável, sem progressão.
- Apenas dois pacientes não responderam ao tratamento.
Os cientistas ficaram surpresos com a eficácia em diferentes tipos de câncer, sugerindo que o método pode desencadear uma resposta imunológica duradoura e abrangente.
Limitações e próximos passos
Embora os resultados sejam promissores, especialistas consultados pela revista Nature ressaltam a necessidade de estudos adicionais antes de validar o tratamento como uma cura. Entre as preocupações está o risco de superestimulação do sistema imunológico, que poderia levar ao ataque de tecidos saudáveis.
A equipe liderada por Yongxiang Zhao pretende avançar para os ensaios clínicos de fases 2 e 3, que incluirão um número maior de participantes e diferentes tipos de câncer. Esses estudos serão cruciais para confirmar a segurança e a eficácia da terapia.