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Empréstimo consignado privado: Uma medida arriscada para a economia

Publicada em: 14/02/2025 00:48 - Notícias

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez declarações otimistas sobre a implementação do empréstimo consignado privado, que, segundo ele, terá um impacto "favorável" na economia brasileira já em 2025. Haddad afirmou que a medida será um "programa forte", com impacto "importante no crescimento, inclusive de longo prazo". Para o ministro, o empréstimo consignado privado será essencial para reduzir o spread bancário e possibilitar melhores condições de crédito aos trabalhadores do setor privado. Contudo, sua análise desconsidera uma série de riscos econômicos e financeiros que podem resultar em mais desequilíbrios, e não em crescimento sustentável.

Ignorando os Riscos à Estabilidade Econômica

Haddad argumenta que a expansão do crédito consignado privado é uma pauta estrutural para o país, buscando diminuir os juros cobrados pelos bancos ao criar um mecanismo de garantia. Embora a intenção de reduzir o spread bancário seja válida, a medida proposta pode ter consequências inesperadas. A liberação de mais crédito em um momento em que a inflação ainda não está completamente controlada pode aquecer ainda mais a economia, o que complicaria a tarefa do Banco Central (BCde reduzir as taxas de juros, um movimento fundamental para o controle da inflação.

Ao conceder mais crédito a trabalhadores do setor privado — especialmente àqueles que já enfrentam uma inflação elevada — o governo pode estar criando um ciclo vicioso de endividamento. O crédito fácil pode, de fato, estimular o consumo no curto prazo, mas ao aumentar a capacidade de endividamento da população sem o devido aumento da renda real, corre-se o risco de agravar a fragilidade fiscal e comprometer a capacidade de pagamento das famílias, especialmente em um contexto de juros elevados.

Falta de Preocupação com a Sustentabilidade da Medida

A perspectiva de que o consignado privado será uma alavanca para o crescimento de longo prazo é questionável. O aumento do endividamento sem um crescimento proporcional da renda pode levar a uma explosão de inadimplência, o que, ao contrário de contribuir para o desenvolvimento econômico, pode criar um cenário de recessão prolongada e aumento da desigualdade. Um programa que aumenta a capacidade de endividamento das famílias, sem a contrapartida de medidas que incentivem o aumento de sua produtividade e renda, pode acabar sendo um paliativo que mascara problemas estruturais mais profundos da economia.

Além disso, o governo parece ignorar o fato de que, em momentos de crise e instabilidade econômica, a oferta de crédito fácil pode ser contraproducente. A ampliação do consignado privado pode ser uma solução de curto prazo que, sem os devidos cuidados, pode criar bolhas de consumo e endividamento, com efeitos colaterais ainda mais graves no futuro.

Desconsideração com o Papel do Banco Central

Haddad também se mostrou otimista em relação ao comportamento da inflação em 2025, mencionando que a perspectiva é de que as coisas se acomodem antes do que o mercado prevê. No entanto, a fala do ministro soa desconectada da realidade atual da economia. A inflação tem sido um dos maiores desafios enfrentados pelo governo, e a expansão do crédito pode ter um efeito inflacionário no curto prazo, dificultando a tarefa do Banco Central, que já tem enfrentado dificuldades para controlar os preços em um cenário de crescimento moderado e juros altos.

Em vez de promover uma política de crédito que possa gerar uma pressão adicional sobre a inflação, o governo deveria se concentrar em soluções estruturais que aumentem a competitividade e a capacidade de produção do país. Criar mecanismos que incentivem o consumo imediato, sem uma base sólida de crescimento, pode gerar efeitos colaterais indesejáveis, como o aumento da pressão inflacionária e a deterioração da confiança do mercado.

O Perigo de Ignorar o Longo Prazo

Embora a medida de ampliar o acesso ao crédito seja interessante em termos de sua proposta de redução dos spreads bancários, ela deve ser analisada com muito mais cautela. O ministro Haddad parece estar misturando questões de curto prazo com uma agenda de longo prazo, sem avaliar as possíveis consequências para a estabilidade macroeconômica do país. A medida pode ser benéfica apenas se acompanhada de uma política fiscal rigorosa e de um crescimento econômico real, o que não está claro nas propostas do governo.

Em vez de apostar em medidas que aumentam o crédito no momento em que o país ainda enfrenta dificuldades fiscais e inflação elevada, seria mais prudente focar em políticas que incentivem o aumento da produção e da competitividade do mercado interno, sem comprometer a capacidade de pagamento das famílias e aumentar a pressão inflacionária.

Conclusão: O Consignado Privado é uma Solução Riscosa

A fala de Fernando Haddad sobre o empréstimo consignado privado reflete uma visão excessivamente otimista, sem uma análise aprofundada dos riscos envolvidos. Embora a intenção de reduzir os spreads bancários e oferecer melhores condições de crédito aos trabalhadores seja válida, a medida pode gerar um aquecimento da economia no curto prazo, prejudicando o controle da inflação e dificultando a atuação do Banco Central. Além disso, aumentar o endividamento sem uma base sólida de crescimento econômico é um risco que pode prejudicar a estabilidade fiscal e a saúde financeira das famílias no futuro.

O governo precisa refletir melhor sobre as medidas que toma e evitar soluções que, aparentemente, parecem positivas, mas podem ter efeitos colaterais graves no longo prazo. Em vez de apostar no crédito fácil como motor do crescimento, é necessário adotar uma abordagem mais equilibrada e estrutural, que considere a sustentabilidade econômica e a real capacidade de crescimento do Brasil.

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