Uma substância presente em mamíferos e extraída de plantas, a ouabaína, tem mostrado potencial como antiviral contra o vírus zika. Historicamente usada como veneno de flechas na África Oriental e como esteroide cardiotônico para fortalecer as contrações do coração, a substância pode ser reposicionada para combater a infecção viral.

O vírus zika é conhecido por causar distúrbios neurológicos, especialmente em fetos, podendo levar à síndrome congênita da zika e microcefalia. No Brasil, as epidemias de 2015 e 2016 resultaram no nascimento de milhares de bebês com malformações, e até hoje não há medicamentos ou vacinas aprovadas para tratar a doença. Entre janeiro e junho de 2024, foram registrados 8.519 casos prováveis de zika no país, um aumento de 9% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Saúde.

Ouabaína no combate ao vírus

Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, liderados pelo professor Lindomar Pena, testaram a ouabaína em culturas de células infectadas pelo zika, observando uma redução significativa da carga viral. Estudos computacionais conduzidos por cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPBsugerem que a substância pode inibir a replicação do vírus, embora mais testes laboratoriais sejam necessários para confirmar essa ação.

Os primeiros resultados, publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature, reforçam o potencial da ouabaína como tratamento antiviral. A aluna Deyse Carvalho, contemplada com uma bolsa Fulbright, realiza agora parte de seu doutorado na University of Texas Medical Branch, onde conduz testes em células-tronco neurais humanas e em um modelo animal da Síndrome Congênita do zika, sob a orientação dos pesquisadores Scott Weaver e Ping Wu.

Os estudos avançam para avaliar a eficácia e segurança da ouabaína, abrindo caminho para o possível desenvolvimento de uma nova abordagem terapêutica contra o zika vírus.