Dados divulgados nesta terça-feira (14pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que a Bahia registrou, no primeiro quadrimestre de 2025, um aumento de 22% nas mortes decorrentes de intervenção policial, em comparação com o mesmo período de 2024. Foram 421 mortes entre janeiro e abril, colocando o estado no topo do ranking nacional do indicador.
Segundo o relatório, grande parte das ocorrências está concentrada em Salvador, Região Metropolitana e municípios do sul e sudoeste do estado, como Itabuna, Ilhéus e Jequié. A maioria das vítimas é composta por jovens negros de periferia, o que reacende o debate sobre a violência policial e o racismo institucional nas forças de segurança da Bahia.
A gestão do governador Jerônimo Rodrigues (PTfoi duramente criticada por entidades de direitos humanos e por parlamentares da oposição. Para a Anistia Internacional, os dados revelam um padrão de letalidade que exige medidas urgentes de contenção, transparência e responsabilização. “É inadmissível que o Estado siga naturalizando o extermínio da juventude negra sob o pretexto de combater o crime”, afirmou em nota a diretora executiva da organização, Jurema Werneck.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BAse defendeu alegando que os números refletem o enfrentamento direto ao crime organizado, especialmente às facções que disputam território na capital e no interior. No entanto, especialistas da área afirmam que o aumento da repressão sem investimentos paralelos em inteligência, programas sociais e controle externo das polícias tem sido ineficaz.
“Não se combate violência com mais violência. Essa lógica de confronto permanente vem se mostrando falha há anos na Bahia. Precisamos de um modelo que privilegie a prevenção, o policiamento comunitário e o fortalecimento de políticas públicas nos bairros mais afetados pela criminalidade”, declarou o sociólogo Paulo Reis, pesquisador da UFBA.
Entidades como a OAB-BA, o Conselho Estadual de Direitos Humanos e movimentos como o Reaja ou Será Morta/Morto anunciaram que vão solicitar uma audiência pública na Assembleia Legislativa para discutir o tema. A proposta inclui a exigência de uso obrigatório de câmeras corporais pelos policiais, uma recomendação antiga que o governo baiano ainda não implementou.
A oposição afirma que a insistência do governo estadual em uma política de confronto revela despreparo e insensibilidade diante de um cenário que já beira o colapso. Com a repercussão nacional dos dados, cresce a pressão para que Jerônimo Rodrigues reveja sua estratégia de segurança pública e abra espaço para propostas mais democráticas e eficazes.