Unidades da rede municipal de ensino de Salvador estão enfrentando, desde o início do mês, dificuldades no fornecimento de merenda escolar básica. Em ao menos 82 escolas, segundo levantamento do Sindicato dos Servidores da Educação (SindiEducação), crianças estão recebendo refeições reduzidas ou sendo liberadas mais cedo por falta de alimentação adequada. A situação tem afetado principalmente os bairros periféricos como São Cristóvão, Palestina, Fazenda Coutos, Valéria e Lobato.
Diretores e professores relatam que, em alguns casos, a única refeição do dia para muitos alunos é a oferecida na escola, o que agrava o impacto da crise. Há registros de estudantes que passaram mal por não se alimentarem durante o turno letivo, e pais estão se organizando para protestar nas próximas semanas diante da negligência das autoridades.
A Secretaria Municipal da Educação (SMEDatribuiu o problema a atrasos na entrega por parte das empresas contratadas e à “necessidade de readequação logística nos centros de distribuição”. No entanto, documentos obtidos pelo SindiEducação revelam que o contrato emergencial com uma das fornecedoras está com pagamentos atrasados há mais de 60 dias, o que comprometeu a operação.
Parlamentares da oposição na Câmara Municipal criticaram a gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil), acusando a administração de incompetência e negligência com os estudantes da rede pública. “É inadmissível que, em pleno 2025, uma cidade com arrecadação bilionária não consiga garantir alimentação escolar mínima para crianças em vulnerabilidade”, afirmou a vereadora Marta Rodrigues (PT).
Organizações como o Conselho Municipal de Alimentação Escolar e o Conselho Tutelar também se manifestaram cobrando transparência, cronograma de regularização e penalização das empresas responsáveis. A Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público da Bahia instaurou procedimento para apurar os fatos e deverá convocar audiência com a SMED nos próximos dias.
A crise da merenda escolar em Salvador escancara a fragilidade da gestão pública em políticas sociais básicas e reacende o debate sobre o papel do Estado na garantia dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.