...

...

Traficante é morto pela PM em Salvador dias após ser solto em audiência de custódia

Publicada em: 20/05/2025 16:53 - Notícias

O traficante Luis Felipe Santana de Jesus, 24 anos, conhecido como “Felipinho”, foi morto na tarde de segunda‑feira (19durante troca de tiros com guarnições da 37ª CIPM, na Avenida Peixe, bairro da Liberdade. O episódio ocorreu doze dias depois de ele deixar a prisão beneficiado por liberdade provisória concedida em audiência de custódia em 7 de maio.

Na ocasião da soltura, o Ministério Público concordou com a medida, desde que Felipinho usasse tornozeleira eletrônica — equipamento que ainda estava preso à perna do suspeito quando ele foi socorrido ao Hospital Ernesto Simões. De acordo com a PM, a equipe foi recebida a tiros por “indivíduos armados” e revidou. Encerrado o confronto, Felipinho foi encontrado baleado, segurando uma pistola calibre .380; pinos de cocaína, crack e um rádio comunicador também foram apreendidos.

Registros do Tribunal de Justiça da Bahia mostram que o suspeito acumulava quatro autuações em flagrante por tráfico só nos últimos 18 meses. Em março, havia sido preso no mesmo endereço por vender drogas a plena luz do dia. Na operação desta segunda‑feira, segundo o laudo preliminar, a pistola apreendida estava com numeração raspada e munição de origem paraguaia.

A morte reacendeu críticas ao sistema de audiências de custódia, criado para coibir abusos de prisão, mas que, na prática, vem libertando reincidentes sem garantir fiscalização efetiva. “Monitoramento via tornozeleira é inútil se não existe equipe para reagir às violações”, diz o promotor aposentado Carlos Góis.

Entidades de direitos humanos questionam o protocolo letal da PM e cobram câmeras corporais nos uniformes — promessa do governo que permanece no papel. Já moradores da Liberdade relatam medo de retaliações de facções rivais e criticam a ausência de policiamento permanente. “A viatura só aparece depois de tiroteio”, resume a comerciante Neide Silva.

Especialistas apontam que a matança reforça ciclo vicioso: a Justiça libera sem preparo, a polícia parte para o confronto, e o governo anuncia força‑tarefa que nunca chega. “O Estado falha nas três pontas — prevenção, repressão qualificada e ressocialização. Quem paga é o morador de bairro popular, encurralado entre facção e farda”, avalia o sociólogo Jailson Melo, da UNEB.

 

 

 

A Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM) investiga o caso, mas, sem câmeras corporais ou imagens urbanas claras, a reconstituição dependerá de depoimentos de policiais e testemunhas — modelo que raramente resulta em responsabilização. Enquanto isso, grupos criminosos disputam o vazio deixado por Felipinho, e a Liberdade contabiliza mais uma morte em estatística que cresce sem freios, sob olhares cada vez mais descrentes da população baiana.

Compartilhe:
COMENTÁRIOS
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...