Salvador registrou, nesta semana, a centésima ocorrência de tiroteio em áreas urbanas desde o início de 2025, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. Os dados colocam a capital baiana como uma das cidades com maior incidência de violência armada do país, com crescimento acentuado de confrontos entre facções criminosas e ações policiais em comunidades densamente povoadas.
Somente nos bairros do Nordeste de Amaralina, Valéria, São Cristóvão e Subúrbio Ferroviário, foram contabilizados mais de 40 tiroteios nos últimos quatro meses. Em diversos episódios, moradores relataram o uso de armamento pesado por criminosos e a presença recorrente de helicópteros e blindados da Polícia Militar, o que reforça o clima de guerra urbana vivido por populações vulnerabilizadas.
A situação tem provocado medo, evasão escolar, fechamento temporário de postos de saúde e suspensão de serviços públicos em localidades dominadas por conflitos. Entidades de direitos humanos, como a Justiça Global e o Instituto Marielle Franco, denunciaram o cenário à Organização das Nações Unidas, alegando violação dos direitos civis e omissão do Estado brasileiro.
O governo estadual, por meio da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), afirma estar reforçando as operações integradas e que as ações visam conter a expansão territorial de facções oriundas de outros estados. No entanto, especialistas em segurança criticam a lógica do enfrentamento militarizado e apontam a falta de políticas preventivas e de ocupação social como principais causas da escalada da violência.
“Não se trata apenas de presença policial, mas de ausência do Estado em todas as outras esferas. Onde não há educação, saúde, lazer e renda, o crime se instala com facilidade”, declarou o antropólogo Renato Gusmão, professor da UFRB.
Parlamentares da oposição cobraram explicações do governador Jerônimo Rodrigues (PTsobre os investimentos prometidos em inteligência, câmeras corporais e formação de novos efetivos. Até agora, pouco foi executado, enquanto as comunidades seguem sitiada pelo medo e pelo fogo cruzado.