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CGU revela fraude com fotos xerocadas em esquema bilionário de descontos no INSS

Publicada em: 03/10/2025 10:26 -

Brasília — Documentos reunidos pela Controladoria-Geral da União (CGU) revelam que entidades envolvidas no escândalo conhecido como Farra do INSS chegaram a utilizar fotos xerocadas e manipuladas de carteiras de identidade (RG) para burlar a exigência de biometria facial do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O esquema visava filiar aposentados sem consentimento, permitindo descontos associativos em seus benefícios.

De acordo com a apuração, as imagens adulteradas eram inseridas nos espaços destinados às selfies exigidas pelo INSS como prova de anuência dos filiados. A exigência da biometria facial havia sido estabelecida em 2024, após reportagens do Metrópoles denunciarem a prática de descontos indevidos.

Fraude estruturada em contratos milionários

Os documentos analisados pela CGU mostram que associações e sindicatos recorreram a empresas de tecnologia para criar fichas fraudulentas. Entre as investigadas estão: Soluções Power BI Software Tecnologia e Internet, Confia Tecnologia da Informação e Dataqualify Desenvolvimento, Assessoria e Dados.

Essas empresas, contratadas por entidades ligadas às fraudes, movimentaram juntas parte de um esquema que arrecadou R$ 2,2 bilhões em descontos. Apenas a Power BI, do empresário Igor Dias Delecrode, teria auxiliado entidades que somaram R$ 1,4 bilhão em arrecadações. O empresário, além de fornecer serviços, chegou a ocupar cargos de direção em associações como Amar Brasil, Master Prev e Aasap — todas investigadas.

Operação Sem Desconto

O esquema foi desarticulado pela Polícia Federal (PF) em abril deste ano, por meio da Operação Sem Desconto. Nos pedidos à Justiça, a PF citou 38 reportagens do Metrópoles como base das investigações.

Em um dos casos analisados, a associação Aasap apresentou contratos com assinatura digital para comprovar filiações, mas a geolocalização indicava que a suposta assinatura havia sido feita a mais de 500 quilômetros de distância da residência do aposentado. A entidade foi condenada judicialmente.

Outra entidade, a AASPA, contratou a própria empresa de seu presidente para validar assinaturas digitais, movimentando cerca de R$ 6 milhões. O contrato havia sido firmado durante a gestão do então diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis, exonerado em 2024 após denúncias. Segundo a PF, Fidelis teria recebido pagamentos do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.

Vínculos políticos e descredenciamentos

Os documentos também apontam que empresários ligados ao mercado de crédito consignado e clubes de benefícios receberam mais de R$ 70 milhões das associações investigadas. Entre eles está Felipe Gomes Macedo, que, segundo a PF, doou R$ 60 mil à campanha do ex-ministro da Previdência Onyx Lorenzoni.

A entidade Cenap.Asa, por exemplo, foi descredenciada pelo INSS em 2024 e atualmente responde a processos judiciais e administrativos. Reclamações contra a associação também aparecem em plataformas de defesa do consumidor, como o Reclame Aqui.

Falhas reconhecidas pela Justiça

 

Nos tribunais, juízes têm desconsiderado as fichas de filiação apresentadas por entidades, apontando que não há elementos básicos de verificação de autenticidade. Em diversas sentenças, fotos manipuladas e assinaturas digitais duvidosas não foram aceitas como prova de consentimento dos aposentados.

Fonte: Documentos da Controladoria-Geral da União (CGU) e reportagens do Metrópoles.

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