Inspirado no título do filme vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1941, exalto a campeã olímpica de 2024. Alfred Hitchcock, perdoe-me, mas "A Mulher Inesquecível" é a nossa Rebeca, e não a personagem eternizada no cinema, com dois Cs, por Joan Fontaine.

Rebeca Andrade fez o Brasil parar e impressionou o mundo na histórica manhã de 5 de agosto de 2024. Originária de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, e começando na ginástica em uma escola pública, ela agora brilha nas páginas do “New York Times”.

Uma imagem resume o momento: no alto do pódio, a brasileira de 25 anos, com os braços abertos e o olhar voltado para o infinito, é saudada por Simone Biles e Jordan Chiles. O domínio norte-americano da ginástica artística se curva diante de uma brasileira que voa com graça e precisão.

A sexta medalha olímpica de Rebeca Andrade, a segunda de ouro, a coloca no topo do panteão dos grandes atletas brasileiros. Ela supera Robert Scheidt e Torben Grael, do iatismo, que conquistaram cinco medalhas em Jogos Olímpicos.

A simpatia e naturalidade de Rebeca Andrade destacam uma atleta profissional de alto desempenho, dedicada e resiliente. Ela enfrentou três cirurgias de ligamento cruzado anterior no joelho ao longo de sua carreira. Em seu momento de glória, não se deixou levar pela emoção e nem fez gestos de desdém. Embora parecesse surpresa ao ver a nota dourada, seu semblante transmitia a confiança de quem sabia que podia conquistar. Ela treinou arduamente, contou com ótimos mentores e teve a estrutura e condições necessárias para explorar seu talento ao máximo.

Rebeca, nossa "Mulher Inesquecível", segue uma tradição que começou na Cidade Luz. Paris viu uma atleta negra se firmar como a maior do esporte olímpico brasileiro, exatos cem anos após ver um brasileiro negro competir pela primeira vez em uma Olimpíada: Alfredo Gomes, do atletismo, em 1924.

Registros históricos descobertos em 2008 revelam que Francis Leroy Holmes, nascido no Rio de Janeiro em 1885, foi o primeiro atleta brasileiro a participar de uma Olimpíada. Holmes integrou a equipe de atletismo dos Estados Unidos nos Jogos de Londres de 1908. Uma reportagem da revista “Piauí”, de 2008, explica que até então ninguém sabia como Holmes, nascido no Rio três anos antes da abolição da escravatura no Brasil, acabou em Chicago.

Após escrever uma das páginas mais brilhantes da história esportiva do Brasil, Rebeca Andrade merece um livro. Ken Follett que me desculpe, mas nosso romance favorito agora é "A Chave de Rebeca".