Aumento de 0,5 ponto já era antecipado pelo mercado, que prevê nova alta na última reunião do Copom, em dezembro, devido à deterioração das expectativas inflacionárias
O Comitê de Política Monetária (Copomdo Banco Central (BCelevou a taxa de juros em 0,5 ponto nesta quarta-feira (6), levando a Selic a 11,25% ao ano. A decisão foi tomada de forma unânime.
Esse movimento já era previsto pelo mercado e demonstra a aceleração do endurecimento da política monetária iniciado no encontro anterior, em resposta à piora das projeções de inflação para este ano e para 2025.
“O cenário continua caracterizado pela robustez da atividade econômica, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, aumento das previsões de inflação e expectativas desalinhadas, o que exige uma política monetária mais restritiva”, afirmou o Copom em comunicado.
Em setembro, o colegiado já havia decidido de forma unânime pela elevação de 0,25 ponto na Selic, alcançando 10,75%, marcando o primeiro aumento desde agosto de 2022. A decisão atual coloca os juros no mesmo nível de fevereiro deste ano, mas na época, o colegiado estava em processo de redução das taxas, encerrando o ciclo de queda em maio a 10,5% ao ano.
Especialistas financeiros acreditam que o movimento de alta continuará na última reunião do Copom de 2024, prevista para os dias 10 a 11 de dezembro, com um novo aumento de 0,5 ponto, atingindo 11,75% ao ano, conforme dados do Boletim Focus publicados na segunda-feira (4).
Contudo, espera-se que a direção da política monetária seja revertida nos próximos meses, com as projeções apontando para uma Selic de 11,25% ao final de 2025.
Mais riscos para alta do que para queda
No comunicado, o colegiado não indicou claramente os próximos passos, também conhecido como guidance, e afirmou que o ritmo das próximas decisões dependerá da convergência da inflação para a meta.
No entanto, o cenário atual apresenta mais fatores de risco para aumento da inflação do que para sua queda.
Entre os fatores que podem impulsionar os preços, o BC destacou a desancoragem das expectativas por um período prolongado, a maior resistência da inflação de serviços e uma combinação de fatores internos e externos, como a recente valorização do dólar frente ao real.
Por outro lado, o Copom apontou como riscos moderadores a desaceleração mais acentuada da atividade econômica global e os efeitos do atual ciclo de aperto monetário.
A autoridade monetária também voltou a enfatizar a importância da política fiscal do governo federal, observando que a percepção do mercado influencia os preços dos ativos e as expectativas, “especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio”.
“O Comitê reitera que uma política fiscal sólida e comprometida com a sustentabilidade da dívida, incluindo a implementação de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prêmios de risco dos ativos financeiros, impactando consequentemente a política monetária”, afirmou o comunicado.
Expectativas em deterioração
As expectativas de inflação pioraram desde a última reunião do Copom, entre 18 e 19 de setembro, devido ao aumento das incertezas globais com a proximidade das eleições nos Estados Unidos, realizadas nesta terça-feira (5), além das tensões persistentes no Oriente Médio.
No cenário doméstico, a piora foi impulsionada pela crescente desconfiança dos investidores na política fiscal do governo, com o agravamento do temor nos últimos dias, em meio às indefinições da equipe econômica sobre a apresentação de um pacote de ajustes fiscais.
Em resposta à escalada do dólar — que atingiu o maior valor em mais de quatro anos — e às críticas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou na segunda-feira que as medidas serão divulgadas até o final desta semana.
Esse cenário fez com que as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCAatingissem 4,59% no último Boletim Focus, ultrapassando o teto da meta estipulada pelo BC, de 4,5%.
Para o ano seguinte, a projeção para a inflação subiu para 4,03%.
A autoridade monetária visa atingir o centro da meta de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.