Um relatório divulgado nesta sexta-feira (09pelo Instituto Fogo Cruzado revelou que 47% dos tiroteios registrados em Salvador no mês de abril ocorreram durante ações policiais. O levantamento, que considera dados coletados por meio de relatos de moradores, redes sociais e monitoramento de imprensa, destaca a capital baiana como um dos centros urbanos mais afetados por violência armada associada à atuação direta das forças de segurança.
Foram contabilizados 102 episódios de disparos de arma de fogo na cidade ao longo do mês, sendo que 48 ocorreram em meio a operações da Polícia Militar e da Polícia Civil. O dado chama a atenção por indicar uma alta concentração de conflitos armados envolvendo agentes públicos, o que pode apontar tanto para maior atividade repressiva quanto para falhas na condução de estratégias de abordagem e inteligência.
Especialistas em segurança pública ouvidos por veículos locais alertam que o padrão de confronto contínuo tende a elevar o risco de mortes civis, sobretudo em áreas densamente povoadas e marcadas por vulnerabilidade social. “A militarização da política de segurança em Salvador gera um ciclo de confronto permanente, sem resultados consistentes em termos de pacificação ou desarticulação de facções”, afirmou o pesquisador André Góes, do Observatório da Violência da UFBA.
Entidades de direitos humanos também se manifestaram sobre os dados, cobrando maior transparência das corporações sobre as operações e defendendo o uso de câmeras corporais como forma de garantir responsabilização. Segundo o Instituto Sou da Paz, Salvador ainda está atrasada na adoção de tecnologias que permitam controle externo efetivo sobre as ações policiais.
Enquanto o governo estadual afirma que está ampliando os investimentos em equipamentos e inteligência, o número de confrontos armados continua a crescer. O resultado tem sido um aumento da percepção de insegurança por parte da população, que frequentemente se vê em meio a tiroteios em bairros como Valéria, Nordeste de Amaralina, Fazenda Coutos e São Marcos.
A SSP-BA ainda não comentou os dados do relatório até o momento desta publicação. O Instituto Fogo Cruzado mantém o monitoramento constante da região metropolitana de Salvador e deve divulgar um balanço semestral com comparativos entre os anos de 2024 e 2025 nas próximas semanas.