O ministro Alexandre de Moraes negou pedido de revogação da prisão preventiva do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente, detido em 9 de abril na Operação Contragolpe. A defesa alegou idade avançada (67 anos), problemas cardíacos e ausência de contemporaneidade, mas Moraes afirmou que “os indícios apontam periculosidade concreta” e citou mensagens recuperadas do celular do major-PM Ailton Barros que mostram o general “orientando a manutenção de canais de desinformação até março de 2024”.
Segundo o despacho de 42 páginas, o ex-chefe do Estado-Maior mantinha “capilaridade ímpar” entre oficiais da ativa e, solto, poderia obstruir investigações ou intimidar testemunhas. Moraes lembrou que o grupo de Braga Netto discutiu sequestrar ministros do STF e aplicar o artigo 142 “na marra”, inclusive após a posse presidencial de 2023. O relator sustentou que o risco “não se dissipou” e que a prisão é “medida adequada e proporcional” para garantir a ordem pública.
A decisão gerou reações opostas. Parlamentares governistas defenderam o rigor, enquanto aliados de Bolsonaro chamaram o ato de “perseguição” e anunciaram recurso à Segunda Turma do STF, onde Moraes pode ser voto minoritário. Juristas dividem-se: parte critica a “normalização” de preventivas longas; outros dizem que “o princípio da defesa da democracia justifica medidas excepcionais”.
Nos bastidores, o Palácio do Planalto evita comentar para não tensionar a tropa, mas militares da reserva falam em “calendário de vingança” do STF. Para a cientista política Paula Carvalho (Fundação Perseu Abramo), a manutenção da prisão “envia recado duro a quem ainda ensaia ruptura”, mas também aprofunda a pecha de Moraes como “xerife de toga”. O processo deve ser analisado pela Segunda Turma até o recesso de julho; se o colegiado mantiver a decisão, Braga Netto poderá ficar detido por tempo indeterminado até eventual denúncia ser recebida — sinal de que o tabuleiro golpista ainda ecoa no Judiciário.