Agentes da Polícia Civil e da Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seapfrustraram, nesta sexta-feira (23), um plano de fuga em massa que estava sendo articulado no Conjunto Penal de Feira de Santana. A operação, que contou com apoio da Polícia Militar, ocorreu após interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça apontarem a existência de túneis em escavação e de comunicação entre internos e integrantes de facções do lado de fora da unidade.
Durante a ação, foram apreendidos celulares, ferramentas improvisadas, croquis de rotas de fuga e anotações com horários de rondas dos agentes penitenciários. Segundo a Seap, o plano previa a fuga de pelo menos 38 detentos ligados a facções criminosas que atuam na capital e interior do estado. A escavação estava avançada e passava por baixo da muralha leste da unidade, com saída prevista para uma área de vegetação de difícil acesso.
A descoberta reacende o debate sobre as condições precárias do sistema prisional baiano, que já opera com mais de 130% de ocupação em diversas unidades e enfrenta déficit de pessoal, vigilância deficiente e falta de investimentos em infraestrutura e tecnologia. Em nota, o Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspebafirmou que “a vulnerabilidade das unidades é de conhecimento do governo há anos, mas segue sendo ignorada por falta de vontade política”.
O governador Jerônimo Rodrigues (PTainda não se pronunciou sobre o caso. Já o Ministério Público da Bahia informou que irá abrir um procedimento para apurar responsabilidades e verificar se houve omissão administrativa. A oposição na Assembleia Legislativa aproveitou o episódio para reforçar críticas à gestão da segurança pública. “É um barril de pólvora. Os presídios estão sob controle das facções, e o Estado assiste passivamente”, disse o deputado estadual Luciano Simões Filho (União Brasil).
Especialistas em segurança penitenciária afirmam que a crise no sistema prisional está diretamente ligada à expansão do crime organizado no estado. “Onde o Estado falha, o crime se organiza. E a Bahia virou terreno fértil para isso”, afirmou o consultor Jorge Damasceno, ex-diretor do DEPEN.
A Seap informou que está apurando internamente como os materiais para escavação chegaram até os detentos e que, nos próximos dias, deverá transferir os principais articuladores do plano para presídios de segurança máxima. Enquanto isso, permanece o alerta: o sistema prisional baiano está no limite — e as consequências de sua falência são cada vez mais visíveis nas ruas.