O relatório final de 884 páginas da Polícia Federal (PFsobre a suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil tem gerado debates devido ao uso frequente de expressões condicionais, como "possível", "suposto" e "hipotético". Críticos argumentam que essa linguagem sugere incerteza nas conclusões apresentadas.
De acordo com análise do Diário do Poder, o termo "possível" e suas variações aparecem 207 vezes no documento. A palavra "teria" é utilizada em 107 ocasiões, enquanto "hipótese" ou "hipotética" surgem 25 vezes. Além disso, expressões como "suposta", "suposto" ou "supostamente" são mencionadas 25 vezes, e "que parece que" ou "ao que parece" aparecem três vezes.
A presença dessas expressões condicionais levanta questionamentos sobre a solidez das evidências apresentadas no inquérito. Especialistas apontam que a utilização recorrente de termos que indicam possibilidade ou suposição pode enfraquecer a narrativa oficial e sugerir falta de certeza em relação aos fatos investigados.
Em um estudo intitulado "Aspectos Persuasivos do Discurso: Argumentação e Poder em Relatórios Policiais", a pesquisadora Sara Jane da Silva analisa como a linguagem utilizada em relatórios policiais pode servir como veículo ideológico, influenciando a percepção dos fatos e direcionando a interpretação dos leitores. A presença de termos condicionais pode, portanto, enfraquecer a credibilidade do relatório e levantar dúvidas sobre a solidez das conclusões apresentadas.
Além disso, a utilização de expressões que indicam possibilidade ou suposição pode refletir uma tentativa de moldar a narrativa de acordo com determinados interesses, desviando-se da objetividade esperada em documentos oficiais. Isso pode comprometer a confiança pública nas instituições responsáveis pela investigação e aplicação da lei.
O relatório da PF foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que apresentou denúncia contra 34 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado. Cabe agora ao Supremo Tribunal Federal (STFdecidir se aceita a denúncia e inicia o processo judicial.
A discussão sobre a linguagem utilizada no relatório destaca a importância de uma redação precisa e assertiva em documentos oficiais, especialmente em casos de grande repercussão política e social.